Na coluna passada falei sobre os "ecologismos" e a necessidade de repensarmos nossas atitudes para, de fato, passarmos a atuar como agentes conscientes. Hoje gostaria de falar sobre Educação Ambiental. Desde que entrei na Semma comecei a me envolver com atividades desse tipo, organizando materiais informativos, eventos como as Semanas de Meio Ambiente, oficinas e várias outras, como a criação dessa coluna e do próprio blog ½ ambiente on line. Atualmente, sou a encarregada desse setor na Semma e temos diversos projetos que pretendemos colocar em prática. Quando falamos em Educação Ambiental, no que você pensa? Em geral, as pessoas associam a educação ambiental com qualquer atividade ligada a meio ambiente, como palestras ou “transformar” quaisquer resíduos sólidos, como garrafas plásticas, em qualquer tipo de artesanato... E se é só fazer qualquer coisa, poderíamos supor que qualquer um poderia fazê-las, certo? Na verdade, não é bem assim...
A Educação Ambiental é um ramo da Educação que tem como objetivo disseminar conhecimentos sobre o ambiente, ajudando em sua preservação e utilização adequada dos recursos. E assim como outras matérias, tem métodos próprios e profissionais habilitados. Isso, na prática, quer dizer o seguinte: é ótimo que todo mundo se preocupe com o meio ambiente, mas, para tornar-se um educador ambiental é preciso preparar-se para tal... Não basta dominar a arte de reciclar caixinhas de leite.
Na verdade, minha preocupação com o “fazer” educação ambiental se dá mais num sentido de quem pretendemos educar estar recebendo continuamente qualquer tipo de informação, do que propriamente com o educador em si, que, mesmo sem formação acadêmica tradicional, poderia, caso se esforçasse, ser um excelente autodidata. Bons ensinamentos e bons exemplos são fundamentais. Qualquer coisa contrária é altamente preocupante, especialmente quando vivenciadas por crianças e jovens em idade escolar.
Ocorre que, assim como citei na coluna anterior, as ações, infelizmente, ainda estão assustadoramente dissociadas da prática e não há uma conexão lógica em grande parte dos belos discursos que ouvimos por aí. Qualquer ação que não seja tomada com consciência é pérfida ou nula. E não é que estejamos querendo enganar alguém ou sejamos más pessoas, simplesmente não há reflexão sobre os atos, o que faz com que eles, em si, não tenham qualquer valor. Há algum tempo estamos tentando organizar uma trilha ecológica na área urbana aqui em Venâncio. É uma das metas da Semma para esse ano. Tirando algumas dificuldades, temos a intenção de inaugurar o quanto antes esse espaço de reflexão, conhecimento e vivência. Enquanto estávamos lá, fazendo um levantamento da área, um colega observou várias sacolinhas de lixo penduradas nas árvores, dentro do mato, próximo a churraqueiras improvisadas e, brincando, ficou imaginando o discurso que teria levado àquelas pessoas a recolherem o lixo, colocarem em sacolas plásticas e pendurarem em árvores no meio do mato onde, sabe-se, nunca mais alguém iria recolhê-las: "vamos lá pessoal, não podemos deixar lixo no chão, vamos ajudar a natureza! vamos recolher tudo, colocar nas sacolinhas e.... deixá-las penduradas aqui nas árvores! Nós somos ecologistas! Vamos lá pessoal!". Parece engraçado... mas não é! É exatamente o mesmo pensamento que leva as pessoas a pintar as árvores de branco, "limpar" por baixo do mato, enxergar folhas e flores no outono caídas no chão e verem sujeira (e ficarem enlouquecidas até mutilarem a árvore inteira), acharem que tudo pode ser ordenado e controlado a partir de um conceito estético bem próprio, independentemente de como são as coisas naturais (algumas árvores não foram feitas para serem plantadas na calçada, por exemplo), entre outros milhares de apavorantes exemplos.
O trabalho do educador ambiental não é algo simples, pois lida com (pré)conceitos arraigados e pensamentos confusos, impregnados na sociedade, inexplicáveis e irracionais, caóticos e contraditórios para o próprio sujeito que não se vê dessa forma. Se eu pudesse dar algum conselho para educadores e educadoras sobre que direção tomar, o que diria a partir de alguma observação que tenho desse assunto, e de maneira simples, seria o seguinte: não há uma regra, mas há padrões. Pessoas são pessoas, diferentes, confusas e complexas, mas de maneira geral podemos dizer que as coisas podem funcionar assim... crianças pequenas, bem pequenas, estão sempre dispostas a aprender; pessoas bem educadas e bem alimentadas, certamente, são mais capazes de entender e mudar os seus hábitos do que aqueles que têm problemas que os afligem socialmente (desemprego, fome, problemas de moradia, etc.); educação ambiental é hábito, não milagre, e deve ser cultivado diariamente... ou é incorporado à rotina, ou é esquecido; há pessoas certas e pessoas erradas para atuarem como agentes de educação ambiental, não basta conhecimento, tem que haver empatia com o público alvo; adolescentes são adolescentes...o trabalho precisa ser direcionado para essa faixa etária com desafios e novidades, ou não terá qualquer apelo; palestras e folders, em geral, são as atividades de menor impacto e precisam ser muito bem direcionadas, pois com muita facilidade viram palavras ao vento e mais lixo para os aterros sanitários; ver, sentir, refletir vivenciar, contemplar... as experiências sempre superam qualquer palavra. Bom trabalho!
Bióloga Mariana Faria-Corrêa
21 de jan. de 2009
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