18 de nov. de 2008

Animais silvestres em casa, pode??

Criar animais silvestres é crime ambiental

Ter em casa, vender, comprar ou retirar da natureza qualquer espécie de animal silvestre é crime ambiental, previsto na legislação federal com multas que podem chegar a R$ 5.000,00 por animal. Isso inclui cocotas, papagaios, passarinhos, tucanos, tartarugas, jabutis, macacos, sagüis, bugios ou qualquer outra espécie da fauna brasileira.
Além de crime, o contato com animais silvestres pode transmitir doenças, muitas vezes desconhecidas e de difícil diagnóstico.
No ambiente natural os animais são reservatórios naturais de diversas doenças, assim como são os seres humanos e não representam ameaça à saúde pública, mas quando retirados de seu ambiente e, ao serem submetidos ao estresse que sempre envolve sua captura, transporte e adaptação ao meio doméstico, o desequilíbrio interno diminui a imunidade dos animais e pode proporcionar o contágio e transmissão de doenças, muitas vezes assintomáticas.

Doenças transmitidas por aves
Psitacose (também conhecida como ornitose)
É uma doença infecciosa causada por bactérias que infectam preferencialmente os psitacídeos (papagaios, araras, periquitos, cocotas), podendo infectar o homem quando ele entra em contato com animais portadores - sãos ou doentes - ou ainda com secreções, dejetos ou produtos derivados dos mesmos. O agente etiológico da ornitose é uma bactéria intracelular que pertence ao gênero Chlamydia (Chlamydia psittaci). A via respiratória constitui a porta de entrada da bactéria, a qual é aspirada com poeiras provenientes de gaiolas ou logradouros contaminados por dejetos e secreções dos animais doentes ou portadores.
Sintoma nas aves: O período de incubação da doença nas aves pode variar de 3 a 106 dias. Os sintomas podem ser distinguidos em forma serosa ou respiratória, digestiva ou na forma mista. Observa-se portanto, dependendo da forma que a doença se manifesta, sonolência, debilidade, falta de apetite, eriçamento das penas, diarréia com intensidade diversa.
Após emagrecimento progressivo e caquexia, os animais morrem, freqüentemente com sintomas de paralisia no prazo de uma a duas semanas. Também ocorrem mortes súbitas sem sintomas prévios da doença. Um animal doente pode ser curado, mas continua portador eliminando o agente por meses. O tratamento de escolha é à base de antibióticos.
Sintoma nos humanos: No homem o órgão mais comprometido é o pulmão, que apresenta uma pneumonia atípica. Não existe vacina para uso humano. O contágio pelo homem ocorre por inalação de pó que é levantado nas gaiolas ou recintos de animais infectados, ou durante o sacrifício destes, ao manipular as penas. A infecção também pode ser produzida por picadas de papagaios infectados e o ato de dar-lhes alimento com a boca. Os sintomas no homem ocorrem depois de um período de incubação de 7 a 14 dias, onde observa-se aumento de temperatura até 40°C. Aparecem em seguida fortes dores de cabeça, picada no tórax, tosse irritativa e dolorosa, dores lombares e nas extremidades, sudorese, inapetência e fraqueza. Geralmente é desenvolvido uma pneumonia com infiltrados densos ,bilaterais e amplos, vistos em radiografia. Ainda pode apresentar estados excitativos e nervosos de origem central, alterações circulatórias tóxicase, mais raramente, erupções cutâneas e problemas cardíacos. Os casos leves da doença são semelhantes à gripe ou uma simples indisposição. Utiliza-se antibióticoterapia como tratamento e realização de meio eficaz de diagnóstico para confirmar a doença, diminuindo-se a incidência de morte humana. A cura e a convalescência podem ser prolongadas. É obrigatório a notificação de casos de psitacose tanto no animal como no ser humano, bem como da sua morte.
Um caso recente de contágio ocorreu há um ano, em uma apreensão de filhotes de cocotas e outras aves em Pantano Grande pelo Batalhão da Polícia Ambiental de Rio Pardo. Após recolher e atender os animais, cinco policiais e mais de 20 técnicos do Hospital Veterinário da UFRGS, entre veterinários, estagiários e funcionários, desenvolveram a doença. Alguns ficaram internados por longo tempo e ainda hoje sofrem conseqüências da contaminação. Veja aqui.

Como evitar o contágio: evitar o contato com agentes contaminantes.

Outras doenças transmitidas por aves para humanos (doença, transmissão e principais sintomas):

Salmonela  transmissão oral-fecal  febre, diarréia
Campilobacteriose  transmissão oral-fecal  gastroenterite
Pseudotuberculose  transmissão oral-fecal  febre, gastroenterite, eritema
Erisipela  contato direto  nódulos cutâneos
Dermatofitose  contato direto  eritema
Doença de Newcastle  aerosol  sinusite, conjuntivite
Influenza  aerosol  problemas respiratórios

Foras essas doenças comprovadas, há diversas outras sendo estudadas, especialmente fungos e bactérias, que podem estar associadas à transmissão por aves.

Mas não são apenas aves que transmitem doenças. Todos os animais são reservatórios em potencial e podem transmitir, desde que haja condições para tal. Em um artigo listado pela ABRAVAS, Associação Brasileira de Veterinários de Animais silvestres, diversas zoonoses são listadas.


Criadores comerciais
Apesar de agora estar proibida a criação de animais silvestres para a venda como animais de estimação através de nova Instrução Normativa do Ibama, animais oriundos de criadores registrados recebem cuidados sanitários e apresentam um manejo cuidadoso, o que reduz o estresse e aumenta o controle de doenças, quando comparados aos animais oriundo do tráfico de animais silvestres.

Tráfico
O comércio ilegal de animais silvestres é a terceira atividade clandestina que mais movimenta dinheiro sujo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e armas. O Brasil é um dos principais alvos dos traficantes devido a sua imensa diversidade de peixes, aves, insetos, mamíferos, répteis, anfíbios e outros.
As condições de transporte são péssimas. Muitos morrem antes de chegar ao seu destino final. Estima-se que de cada dez animais retirados da natureza, nove morram antes de serem comercializados. Filhotes são retirados das matas, atravessam as fronteiras escondidos nas bagagens de contrabandistas para serem vendidos como mercadoria.
Todos os anos mais de 38 milhões de animais selvagens são retirados ilegalmente de seu hábitat no país, sendo 40% exportados, segundo relatório da Polícia Federal.
O tráfico interno é praticado por caminhoneiros, motoristas de ônibus e viajantes. Já o esquema internacional, envolve grande número de pessoas.

O que fazer???

• Nunca compre ou capture animais silvestres;
• Não faça parte dessa covardia que é o tráfico de animais silvestres;
• Se gosta de animais, adote e cuide de um gato ou cachorro abandonados. Eles agradecem e a cidade também e lembre: o dono é responsável pelo animal, devendo tomar todos os cuidados de saúde e bem estar ao animal;
• Não exponha sua saúde. Crianças, gestantes, idosos e pessoas com doenças são os mais suscetíveis;
• Não exponha animais silvestres a uma vida de estresse em um ambiente urbano/doméstico, isso causa estresse, diminui a expectativa de vida, causa doenças e comportamento inadequado, como agressividade;
• Se você não sabia de nada disso, previna-se de multas e doenças. Entregue o animal voluntariamente na Semma ou Ibama em Porto Alegre;
• Não esqueça: animais silvestres são animais silvestres, por mais que você teime em chamá-lo de “seu bebê”.

Fonte:

http://www.saudevidaonline.com.br/psitacose.htm
Fowler, M.E. Zoo and wild animals medicine. 1993 Zoonoses Acquires from birds, , cap. 22.
http://www.renctas.org.br/pt/home/
http://abravas.com.br

(Bióloga Mariana Faria-Corrêa)

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